Como vão???
Este mês, rapaz, está estranho, não tá não?
Passou o São João, Julho entrou chuvoso demais e a sensação é de um Junho esticado, ou de um Julho que caiu do céu, meio desnorteado. Deus ajude a nos ambientar nele antes que chegue o famigerado Agosto Forever 🙏
E falando nos tempos, já não era sem tempo escrever esta que vos vai vistas abaixo.
Sem mais demoras, vamos às notícias!
O livro do clube este mês é O parque das irmãs magnificas (2021), da gatíssima Camila Sosa Villada.
A Camila esteve na última Feira do Livro em São Paulo, ocorrida entre 29 de Junho e e 07 de julho, e foi uma agitação. Foi convidada para mesas, lançou três (!) livros, foi em várias livrarias, que logo em seguida surgiram oferecendo livros dela autografados. (Eu tinha pouco mais de dois reais na conta e suspeitei que não estava a meu alcance).
Camila é uma autora trans, argentina, nascida em Córdoba, em 1982, estudou Comunicação Social e teve papéis no teatro, cinema E televisão. Sua incursão nas letras, com seu primeiro romance Las Malas (2019) foi um sucesso de público e aqui traduzido como O parque das irmãs magníficas (2021).
O Parque é seu livro mais famoso, e conta a vivência de um grupo de travestis num parque (Parque Sarmiento) em Córdoba, onde se prostituem, sob a guarda possível e carinhosa da mais velha do grupo, a fascinante personagem Encarna.
Numa linguagem surpreendente, crua, franca, a autora nos dá um belo e dolorido quadro do que é a vivência travesti. Um sentir desigual que não encontra espaço para SER e tem de conquista-lo com o próprio sangue.
Ela já repetiu em entrevistas que o livro NÃO É autobiográfico, mas apenas inspirado em algumas vivências dela.
Atualmente são cinco livros lançados, todos disponíveis no Brasil, e os temas orbitam a condição trans. O último, Tese sobre uma domestificação (2024) vai virar uma cinebiografia com a própria Camila como protagonista. E o Alfonso Herrera, ex RBD, do vosso (seu, de vocês) tempo :)
O parque das irmãs magnifícas é leitura para ontem, se queremos melhorar nosso relacionamento com a alteridade e a forma como percebemos as pessoas que estão fora da heteronormatividade.
Dito tudo isto, esta newsletter também vai ter noticías da escritora Elena Ferrante!
Numa pesquisa feita com 503 pessoas, entre escritores e amantes de leitura, o livro A amiga Genial da misteriosa autora levou o primeiro lugar entre os cem melhores livros do século, até agora. Mas não só: a autora volta a ocupar mais dois lugares no ranking! Babado 😎
Elena Ferrante, bem sabemos, é um pseudônimo e a pessoa por trás desse pseudônimo faz questão de manter o anonimato para, dizem, deixar todos os holofotes apenas para a sua obra. (Essa dominou as profundezas, Caro Jung)
E, bem, é uma senhora obra.
A tetralogia da qual faz parte o romance vencedor, a chamada série napolitana, é um fenômeno de vendas.
Uma característica da obra da Ferrante é a mulher como centro narrativo e sua relação com as várias instâncias da nossa sociedade. E seja em Nápoles ou Recife, nela encontramos paralelos incontornáveis, mas não só, pois bem pensados e pesados, também sombrios, perigosos, ligados ao patriarcado.
Facinho de ler, a autora usa ganchos de maneira impecável; a história vai se enrolando como o nosso amado bolo de rolo, em muitas camadas deliciosas, e outras nem tanto (nisso diferem) e a gente não larga até o ultimo farelo.
Resumindo rapidinho,
o livro começa com uma mulher percebendo que não guardou consigo nenhum objeto da melhor amiga com quem esteve as voltas toda uma vida e resolve escrever a história dessa amizade.
Vamos conhecendo a Lila e a Lenu (a narradora) desde o comecinho da amizade até a vida adulta. Como uma transformou a outra e como a estrutura da sociedade transfomou a ambas. Como tentaram fugir de destinos forjados, horríveis, como se angustiaram em papeis pré-determinados, como lutaram, sofreram ou sucumbiram.
Merece o primeiro lugar da lista? Não sei.
Eu estive a lembrar do filme American Ficcion (2023), vocês assistiram? E algo na obra da Ferrante me soa como uma pegadinha. Talvez eu seja apenas um POUCO desconfiada.
Mas que é pra lá de bem escrito e cativante, é inegável.
Voltando para o livro do mês…
podemos dizer que ler o Parque das Irmãs magníficas foi uma experiência e tanto e vários links se abriram na tela da memória (se isto soar brega é porque é mesmo kk), principalmente filmes e documentários.
POR EXEMPLO:
o documentário fenomenal A morte e vida de Marsha P. Johnson (2017).
O doc conta especialmente da amizade e o ativismo pelos direitos LGBT+ de duas amigas, mulheres trans, a Vitória Cruz e Marta P. Johnson. Esta última, assassinada, teve seu corpo jogado no rio. A versão da polícia de que teria cometido suicídio gerou uma onda de revolta entre seus conhecidos. Pesado, triste, bonito e necessário.
Mas também os ótimos Madame satã, brasileiro, de 2002, com o incrível e tchutchuco Lázaro Ramos e antiguinho, mas lindo de morrer, Café da manhã em Plutão (2005), com o enjoadinho e impecável Cillian Murphy.
De quebra, vamos indicar um livro que está no meu Juizo e eu só aguardando uma promoçãozinha para manda-lo à minha estante, que se chama Mau Hábito e é de uma autora trans chamada Alana S. Portero. (Eu indicando livro que não li é apenas uma grande confiança nos meus instintos literários 😁).
É isto, confiança sempre! haha
Sempre bom conversar com voces assim, sem réplicas nem tréplicas, no mais magnífico absolutismo.
Mentiraaa, prefiro ao vivo 😍
Não esqueçam que
nosso encontro ficou dia 26/07 , às 19h30, na Fundaj/Derby. É uma sexta-feira, então aceitaremos convite para uma esticadinha depois.
Até a vista. Se cuidem!